Claro que não vais ler esta carta (que neste caso é um post porque os tempos evoluem e isso de carta já não se usa. Modernices!) porque o pai e a mãe já deixaram de ler cartas faz séculos, já que nós agora dizemos logo de caras o que queremos e evitamos essas macaquices todas de nos armarmos em ingénuos a pedir-lhes que a ponham no correio, enquanto eles faziam uma ginástica danada para nos explicarem que aqueles embrulhos todos foste tu que lhes pediste para guardar, que já não tinhas espaço aí e outras aldrabices do género.
Também não vou desatar a lastimar-me que quando era pequena te pedi aquela boneca que tu não deste e bla bla bla, porque eu nunca pedi bonecas, gostava mesmo era de pistas de carrinhos, de bolas, de patins, de barcos de borracha e de livros. Claro que tu muito benemérito e com essa tua mania de meninos e meninas além dessas coisas também me davas sempre umas quantas bonequinhas que só serviam para eu por em fila e dar aula (pois é, a minha pancada começou cedo), mais uns conjuntinhos de pratinhos (deve ser por isso que gosto tanto de comer, mas me ficou o trauma de ter que o confeccionar), um ferro de engomar (ouve lá mas isso era alguma paranóia de fazeres de mim dona de lar? Nunca ouviste falar em lavandarias?!) e aquelas fitinhas e lacinhos todos com que a mãe me ornamentava a cabeça até eu parecer um embrulho.
Está bem, uma vez, já era crescidita, pedi-te um iate e tu não deste, mas está desculpada a tua forretice e eu até nem sou rancorosa. Claro que ainda hoje me está essa atravessada. Era só um iate! Ao meu irmão deste-lhe o carrinho telecomandado que ele pediu, porque diabo não me podias ter dado o iate a mim?!
Adiante.
Como passei anos a pedir-te uma lista de coisas e tu sempre me deste tudo ou quase tudo. Como todas essas prendas que eu pedi e tu sempre deste, contribuíram para que eu tenha sido uma criança a quem não faltou quase nada. Como todos esses presentes fizeram de mim uma jovem feliz. Eu parto do princípio que não é agora, ao fim destes anos todos, que me vais negar um pedido. Portanto oh Pai Natal vê lá se me trazes aquela única prenda que tu sabes que eu gostava muito de ter. Não precisas embrulhar. Nem é necessário laçarote. Nem um cartão com o meu nome porque se a trouxeres, saberei logo que é a minha.
Deixo a portita da lareira aberta (espero que tenhas feito uma daquelas dietas que as minhas amigas fazem na época de verão para caberem nos biquínis, senão não passas ali), deixava-te a janela aberta mas receio que a maluca da gata se atire outra vez do 6º andar, mas há um a chave na casa daquele vizinho (olha, tu fecha bem a porta ao sair que eu quando acordar ainda quero ter pc, tv, mobília e essas cangalhadas). Ahhh e limpa os pés sff, que não tenciono passar o dia a limpar a casa, mesmo que te armes em benemérito e me ofereças aspiradores, vassouras e essas prendas que tens a mania que todas as mulheres adoram.
Só mais uma coisa… não venhas no comboio da linha, que ainda te assaltam e lá se vai a única prenda que te peço, nem venhas pela 2ª circular se for dia de cimeira, nem pela IC19 que as obras nunca mais acabam, cuidado com os aviões que volta não volta são cancelados e já agora, não precisas trazer a tenda que não me importo de te dar guarida, nem os camelos que já cá há muitos.